MUSICOTERAPIA NO ENSINO DE CRIANÇAS PORTADORAS DE NECESSIDADES ESPECIAIS

Segundo LUMAS (2002), na idade escolar a atividade motora nova e essencial é essencial. Apesar de as crianças já terem aprendido a escrever antes, é só agora que a escrita se torna conteúdo essencial do dia-a-dia escolar. Escrever é uma atividade que combina motricidade e percepção. Por isso, freqüentemente a leitura fraca acompanha um distúrbio na escrita. No entendimento de FREGTMAN (1989), até certo ponto a escrita escolar se assemelha ao desenho de formas geométricas que passa a ser treinado na escola com o professor ou com trabalhos musicoterapêuticos. Cada movimento e cada combinação deles é um processo individual. Quanto menos um movimento através do treino se assemelha a uma forma geral, tanto mais se uma expressão pessoal. Essa expressão é observada nos movimentos grandes e pequenos, nos estáticos e dinâmicos. Embora a prática da música imponha que o cérebro quase inteiro movimente todo o corpo, é nas mãos com que se fixa a atenção. Se não fossem as mãos, a música dificilmente poderia desenvolver-se para além da canção. Na natureza, conforme FREGTMAN (1989), não se pode encontrar maior agilidade e flexibilidade de movimentos que as mãos e é por essa razão que na área motora do cérebro ela alcança grande hierarquia. A facilidade manual reside não apenas em movimentos dos pulsos e dedos, mas também de cotovelos e ombros que orientam precisamente as mãos. O movimento é uma preocupação do cérebro inteiro. Segundo GAINZA (1988), tocar um instrumento é dançar com as mãos, é dar harmonia a todo movimento dos membros superiores. Em meu trabalho com as crianças deficientes que estudam numa mesma escola, enfoco bem que dançar não é necessário que envolva todo o corpo, mesmo porque, há crianças no grupo que não se locomovem sem uma cadeira de rodas. O dançar com as mãos envolve todo o movimento de coordenação motora fina, sem contar que o prazer anda lado a lado com os movimentos. O corpo acaba por receber estímulos, pois, um músculo não age sozinho, mas sempre em cadeia. A música, por sua vez, vibra o corpo dando a sensação de movimento constante. Dançar com as mãos implica treinar a coordenação de membros superiores, pois é trabalhado todo o espaço. Envolve a cognição e atenção executando pequenos e grandes movimentos em todos os planos do espaço, ou seja, plano alto, médio e plano baixo. Para GAINZA (1988), enquanto um músico toca, o cérebro assume uma carga altíssima. A mão é articulada ao pulso, que se torce ao se cruzarem os ossos do antebraço. Este articula-se na parte superior do braço, presos pelo ombro. O ombro se flexiona em conexão com a parte superior das costas e, esta gira em torno da espinha dorsal. A espinha dorsal se encaixa na pelve, onde há mais duas articulações, pernas e pés flexíveis. Afirma FREGTMAN (1989) que, quando um regente ergue sua batuta ou uma criança pega uma bola e a leva para cima para arremessá-la, todas estas articulações trabalham em uníssono. Os brinquedos são instrumentos de atividades lúdicas e as ferramentas com as quais as crianças desenvolvem suas habilidades motoras. Na musicoterapia, os brinquedos são substituídos pelos instrumentos sonoros e musicais, o que não diminui o desenvolvimento motor, ao contrário, parece estimular ainda mais devido à curiosidade das crianças e o manejo de cada um deles. Explica ainda FREGTMAN (1989) que, alguns exigem certa destreza, o que faz com que as crianças treinem um determinado movimento de modo eficaz, favorecendo tanto a psicomotricidade fina, quanto a sonoridade, tem-se como exemplo, o triângulo. Nesse instrumento, as crianças devem aprender a não apertá-lo e sim pinça-lo de modo que ao tocar o ferro junto ao instrumento, este vibre em todos os seus contornos e não tenha um som ‘abafado”. Crianças com maior espasticidade¹, devem estar com ombros, cotovelos punho e mãos relaxadas para obter o som desejado. A princípio este instrumento pode causar repulsa por parte de crianças deficientes, pois limita sua capacidade de tocar e ouvir uma boa sonorização, fazendo perceber na criança sua falta de controle, mas depois, com exercícios de relaxamento, quebra de padrões e treino, a criança consegue executar os movimentos adequados. _______________________ ¹ Da natureza de um espasmo; que se refere a espasmo; caracterizado por espasmos; afetado por espasmos. Para GAINZA (1988), outro instrumento muito utilizado é o tambor, instrumento este, que pode ser tocado e manipulado de diversas formas, não apenas com as mãos, mas com outras partes do corpo, possibilitando à criança uma liberdade de expressar a criatividade sonora e perceber que, apesar de limitações físicas, essas podem ser ajustadas de forma funcional, promovendo prazer. A técnica de dançar com as mãos consiste em sensibilizar as crianças com diversas músicas de ritmos diferentes e estas expressarem seus sentimentos com os membros superiores explorando todo espaço ao redor do corpo. Outra variante é exressar os ritmos no papel, dançando com lápis colorido. ‘A pedagogia da modernidade, como se tem afirmado reiteradamente, está marcada pelo crescente amadurecimento dos conhecimentos psicológicos. O ensino da música não escapa à regra. Por essa razão, e também por fortes motivos pessoais, a prática e o ensino dos diferentes aspectos musicais, que se vem cultivando há quase três décadas, foram se tornando cada vez mais ‘psicológicos’ ao centralizar a atenção do educando, em suas condutas e processos de crescimento.” Seguindo a mesma linha de raciocínio, cabe também destacar que, de acordo com FREGTMAN (1989, p. 17): ‘Integrar a música à terapia é tarefa árdua porque implica buscar o preterido. A cultura de massas atribui um papel específico à música: o de promover a esquizoidia social. Ela é transformada em agente de isolamento. Ai confluem música e enfermidade. Na solidão do baile isolado. A terapia resgata a história do indivíduo e da sociedade, e busca o caráter social do fazer musical, o seu vínculo solidário, o seu relacionamento como tribal, o ancestral, o compartilhado.” E, no mesmo sentido, FREGTMAN (1989, p. 17) ainda complementa, afirmando que: ‘Integrar a música à terapia é integrar o corpo, porque a música é feita, dita, e cantada como manifestação corporal. E é buscar o corpo, os seus gestões, posturas e estilos como engrenagem da história de um indivíduo isto é, da história de sua família, do seu setor social, da sua cultura. E mergulhar no corpo leva necessariamente à relação do corpo com o corpo do outro, desenvolvendo um plano de encontro.” BARANOW (1999), reafirma a importância da musicoterapia com técnica alternativa, na qual um dos principais aspectos facilitadores e base de sustentação é a possibilidade do trabalho não-verbal, da comunicação através de outras formas que não a linguagem falada. Essa modalidade terapêutica permite estabelecer canais de comunicação mesmo quando a fala não tem significado lógico para os ouvintes, como é o caso de autistas, catatônico, deficientes mentais profundos, estados de coma etc.